Mônica Rosales
Escolhendo as Histórias
Que história contar em cada faixa etária?
Não  apenas crianças se  beneficiam das imagens contidas nas histórias, em  todas as idades  podemos oferecer esses presentes - basta que tenhamos  um olhar atento  para as questões de quem as recebe. Não se trata aqui  de fechar  possibilidades do tipo: para esta faixa etária 
só se  contam  estes X contos – mas antes, de tentar reconhecer nas diferentes  idades  quais as disposições latentes e procurar as imagens que mais  estejam em  sintonia com elas, tanto do ponto de vista lúdico, como  evolutivo.
Contos de Fadas
Os contos de  fadas traduzem em suas imagens o universo das leis da existência  humana.  Leis  estas que não conseguimos ainda colocar em linguagem  racional e quando  tentamos fazê-lo, parece que perdem a força e seu  poder de  transformação, no sentido de nos conhecermos melhor e de  termos nosso  destino em nossas mãos de forma consciente, positiva e  criativa.
A  criança pequena pode  ser vista como uma recém-chegada de um mundo onde  essas leis são muito  claras e óbvias e onde os contos de fada são como  a língua que se fala  nesse mundo, de modo que para as crianças essa  linguagem é  perfeitamente compreensível.
Se acreditarmos nisso,  convém preservar tais imagens como verdadeiros tesouros da humanidade.   Se  quisermos falar à criança sobre esse mundo de possibilidades, convém   não fazermos adaptações e pesquisarmos se há mudanças de cunho   político, social ou religioso, incluídas nos contos, e retirá-las.   (Observem  os contos de Andersen – que não são tradição oral, mas  criações dele  próprio, como estão carregados desses valores  sócio-culturais.  Constituem grande fonte de entretenimento, mas não são  portadores  daquelas imagens grandiosas dos contos de fadas oriundos da  sabedoria  dos povos.).
Para  aquela horinha  especial, antes de dormir, seria bom que as crianças  levassem essas  verdades como companheiras e para preservá-las de nossos  julgamentos,  podemos contá-las sem grandes interpretações.
Como escolher o conto?   Conte sempre aquele que você gostar mais e não se preocupe em decifrar  as imagens arquetípicas que ele contenha.  Apenas delicie-se ao contar.
Lendo os Contos 
Quanto à leitura de  contos é importante que sejamos capazes de ler sem perder o contato  visual e íntimo com as crianças.  Apesar  de estarmos lendo, devemos  estar observando os momentos de inspiração e  expiração da história e  fazermos pausas, como se o conto já estivesse  decorado há muito tempo,  de modo que o “livro não apareça” mais do que  a própria história,  conforme demonstrado.
Criando o ambiente
Imaginem um  trio-elétrico tocando músicas alegres em alto e bom som.  Qual seria o  nosso impulso? Sair atrás, dançando e cantando? Muito provavelmente.
Imaginem o som de uma  lira ou o murmurar de uma canção suave.  Desejaríamos parar em silêncio e  ouvir?  Provavelmente. 
Temos  um movimento  para fora com o trio-elétrico e um movimento para dentro  com a lira.  Podemos pensar nisso se quisermos criar um ambiente próprio  para contar  histórias.  Para ouvir é preciso  silenciar e permitir que as imagens  se construam em nossa mente e em  nossos corações. Tudo o que desejarmos  criar em termos de respiração  deve ser pensado ao elaborarmos o  ambiente.  Se  vamos contar histórias para “crianças que estão com o  trio-elétrico”,  precisamos trazê-las gradualmente, a partir do  trio-elétrico até o  silenciar para poder ouvir.
Velas  e/ou músicas  cantadas e/ou tocadas, podem acompanhar pequenos rituais  criados pelo  contador para trazer a criança para o ambiente mágico que  deseja criar.
Adequando as histórias às diferentes faixas etária.
Por volta dos 3 anos
Seu universo é mágico, sua beleza, infinita.
A  criança pequena tem  pouca concentração para ouvir histórias com  estruturas mais  elaboradas. Pequenas histórias que incluam o movimento  do corpo e rimas  e repetições agradam enormemente.
Os contos rítmicos,  com repetições, são os mais adequados assim como brincadeiras de dedos.
Ex:  Pesico e Pesaco,  dois anõezinhos dentro do saco. Pesaco tem um  chapeuzinho, Pesico tem  uma fitinha em volta da testa... E os dois  juntos vão para a grande  festa...
Eles cantam, eles  dançam, depois voltam para casa... Pesico e Pesaco, dois anõezinhos  dentro do saco...
Um  profundo respeito  pelo mistério que cada criança encerra em si quanto à  sua proposta de  vida, alegria e entusiasmo ao contar histórias,  constituem o  pré-requisito básico para contar histórias em todas as  idades da  criança, mas em relação à criança bem pequena, vale  incrementar: nossas  verdadeiras intenções devem ser trazidas à luz de  nossa consciência,  pois eles são especialmente sensíveis a elas.
A compreensão da  conquista espacial no movimento da criança fará diferença na escolha dos  ritmos: 1O. em cima e embaixo, 2O. direita e esquerda (7-8 anos) e por  último, dentro e fora.
De 4 a 7 anos
Contos mais simples e curtos  para os menores, maiores e mais elaborados para os maiores.
A  criança nessa faixa  etária não distingue muito bem entre o mundo (as  outras pessoas, os  outros seres viventes, a natureza) e si mesma. Vivem  como num sonho bem  elaborado e os contos de fadas são muito bem aceitos.  Quanto  aos  outros contos (que não de fadas) deve-se ter o cuidado para que a   linguagem não seja nem infantilizada, subestimando a capacidade de   compreensão da criança, nem elaborada demais que não encontre base no   mundo de experiências que ela tenha até então, nem de menos, pois não   nos permitem conceber a idéia. A comunicação se estabelece e se   constrói a partir do que é re-conhecido.
Fonte: Aliança pela Infância no Brasil - www.aliancapelainfancia.org.br 
Sem comentários:
Enviar um comentário